
Projeto “Tecendo Laços” leva pesquisadoras da UFG para África em missão de qualificação de enfermeiros na atenção primária”
Projeto "Tecendo Laços" leva professoras da UFG a Cabo Verde e Moçambique para qualificar enfermeiros na atenção primária, promovendo cooperação internacional e troca de saberes em saúde.
Em um cenário global cada vez mais interconectado, os desafios da saúde transcendem fronteiras, exigindo uma abordagem conjunta e diálogo entre diferentes realidades. Foi com essa visão que surgiu o projeto “Tecendo Laços”, uma iniciativa inovadora liderada pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG). Este projeto reúne instituições de ensino superior da América Latina, Portugal e África, com o objetivo de qualificar enfermeiros para a atenção primária à saúde. Esta rede colaborativa também recebe apoio da Secretária Geral Iboamericana e os Camões.
A iniciativa surgiu após o sucesso de uma disciplina internacional promovida por programas de pós-graduação da UFG e da América Latina, liderado pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde da UFG. O que inicialmente parecia ser uma ação isolada, transformou-se em uma rede de colaboração internacional. A professora Natália Aredes, vice-diretora da Faculdade de Enfermagem da UFG, descreveu o projeto como “uma teia viva que conecta pessoas, histórias e saberes”. A iniciativa não somente integra docentes e discentes de várias nacionalidades, mas também identifica desafios comuns e fomenta soluções colaborativas na área da saúde.
Assim, o projeto não tem a pretensão de ensinar, mas sim de compartilhar, ouvir e aprender em conjunto. Enfermeiros de distintos contextos culturais, sociais e econômicos se reúnem para debater estratégias de fortalecimento da atenção primária à saúde, adaptadas às realidades locais: “gente parte da vivência de cada profissional, das necessidades reais de quem está lá na ponta”, explica a professora Maria Márcia, uma das coordenadoras do projeto.
A transição do projeto “Tecendo Laços” de uma ideia inovadora para uma ação concreta se materializou quando cinco professoras da Faculdade de Enfermagem da UFG viajaram para Cabo Verde e Moçambique como parte do projeto, entre os dias 3 e 11 de maio de 2025. Durante a missão, as equipes realizaram visitas de campo, entrevistaram enfermeiros e dialogaram com lideranças locais, participando do cotidiano dos serviços de saúde dos dois países.
As professoras Maria Márcia Bachion e Roxana Isabel Cardozo Gonzales estiveram em Maputo, Moçambique, enquanto Cynthia Assis de Barros Nunes visitou Nampula, também em Moçambique. Suelen Gomes Malaquias e Natália del Angelo Aredes foram para Praia, Cabo Verde.

Em entrevista realizada na Secretaria de Relações Internacionais (SRI) da UFG no dia 28 de maio de 2024, as pesquisadoras relataram suas experiências durante a missão.
A professora Suelen Malaquias destacou o engajamento dos enfermeiros cabo-verdianos. “Eles queriam mostrar, conversar, pensar soluções juntos. Foi muito potente”, disse. Ela observou como o cuidado com feridas é adaptado à realidade e aos recursos disponíveis no país. Em Moçambique, a professora Maria Márcia Bachion enfatizou as diferenças entre os países visitados. “Moçambique não é igual a Cabo Verde, assim como o Brasil não é igual a Portugal. São culturas, histórias e práticas de cuidado muito distintas”, afirmou.

As professoras destacaram práticas eficazes observadas, como o uso de mosquiteiros em todas as camas para prevenção da malária, e o uso de música, dança e línguas locais nas ações de saúde. “Cada cenário de intervenção possui particularidades epidemiológicas e estruturais. Por isso, as estratégias pedagógicas são adaptadas à realidade local, sempre com base em metodologias ativas e processos dialógicos”, detalha Roxana. Percepções semelhantes foram apreciadas pela professora Cynthia, responsável pelo curso em Nampula, Moçambique.

Apesar das dificuldades enfrentadas com conectividade à internet, familiaridade com ferramentas digitais e limitações estruturais, elas afirmaram que essas barreiras revelam a capacidade e criatividade dos profissionais locais. “Limitação não está na capacidade de quem trabalha lá. Muito pelo contrário. Eles nos ensinaram muito sobre formas alternativas de se comunicar e cuidar”, relatou a pesquisadora Maria Márcia.
A experiência demonstrou o valor da troca de saberes entre profissionais de diferentes realidades. Para a professora Roxana Cardozo, coordenadora geral do projeto, o Brasil tem muito a oferecer com a experiência do Sistema Único de Saúde (SUS), que serve de inspiração para outras nações. Contudo, ela ressalta que o essencial é a cooperação internacional: “não se trata de levar conhecimento, mas de somar saberes”, disse durante a entrevista.
A delegada de saúde de Praia sintetizou o sentimento geral sobre a iniciativa ao definir o projeto como “uma manta que vai nos aquecer por muito tempo”, frase que representa o impacto duradouro esperado da cooperação entre os países envolvidos no “Tecendo Laços”.